sábado, 23 de março de 2024

 

Comércio Internacional português

de "Têxteis" e "Vestuário e acessórios"

(2019-2023)

( disponível para download  >> aqui )

1 - Introdução

As exportações do conjunto de produtos “Têxteis” e “Vestuário e acessórios”, que haviam registado um forte incremento após a adesão de Portugal às Comunidades, começaram a decair em 2002, quebra que se acentuou significativamente após a concretização do desmantelamento do “Acordo Multifibras” (Janeiro de 2005), em conformidade com as regras da “Organização Mundial de Comércio” (OMC), e do consequente aumento principalmente, da competição chinesa no sector, a que a indústria reagiu apostando na qualidade, na inovação e no “design”, com aumento de valor acrescentado. 

A partir de 2009 assistiu-se a uma recuperação sustentada destas exportações, que atingiram o seu ponto de maior crescimento em 2018, decrescendo a partir de então, mais acentuadamente em 2020, na sequência da pandemia que assolou o mundo, para recuperarem o seu crescimento até 2022, com 122,2% do valor que detinham em 2000, decaindo para 115,5% em 2023, de acordo com os dados de base preliminares disponíveis.

Estes produtos continuam a ocupar uma importante posição no contexto das exportações, com grande interligação com as importações ao nível de matérias-primas necessárias para alimentação da indústria exportadora.

Desde o início deste século as importações de produtos “Têxteis” mantiveram-se abaixo do nível de 2000, à excepção do ano 2022, enquanto que as importações de “Vestuário e acessórios” (acessórios como chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas e guarda-sois, penas e penugem, flores artificiais e obras de cabelo) registaram um ritmo de crescimento sustentado (com uma inflexão em 2020), atingindo 266,9% em 2023 face a 2000.

A balança comercial do conjunto dos “Têxteis” e “Vestuário e acessórios” foi favorável a Portugal de 2019 a 2023, com um saldo de 595 milhões de Euros no último ano e um grau se cobertura das importações pelas exportações de 111,3%, na sequência de quebras em valor, face ao anterior, de -5,6% nas importações e de -5,5% nas exportações.

Em 2023, tanto na importação como na exportação predominou o “Vestuáriio e acessórios”, com respectivamente 58,1% e 59,6% do Total.

Numa óptica de localização das importações destes produtos por mercados Intra e Extra-comunitários, verifica-se que no espaço Intra-comunitário tiveram origem 56,9% das importações de “Têxteis” e 83,2% das de “Vestuário e acessórios” em 2023.

Por sua vez, no âmbito das exportações foi também o espaço Intra-comunitário o principal destino dos “Têxteis” (63,0% do Total) e do “Vestuário e acessórios” (80,1%).

Neste trabalho, que cobre os anos 2019 a 2023, os produtos “Têxteis” vão ser divididos em quatro componentes: “Fibras e Fios”, “Tecidos”, “Têxteis-Lar” e “Outros Têxteis”. Por sua vez o “Vestuário e acessórios” vai ser considerado em três componentes: “Vestuário de Malha”, “Vestuário excepto de malha” e “Outros acessórios” (ver Anexo). 

Os dados estatísticos de base aqui utilizados, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no seu Portal, correspondem a versões definitivas para os anos de 2019 a 2022 e a uma versão preliminar para 2023, com última actualização em 9-2-2024.

2 – Comércio internacional português de “Têxteis”

2.1 – Balança Comercial

Em 2023, face a 2022, as importações e as exportações de “Têxteis” registaram taxas de variação homóloga negativas, respectivamente -16,8% e -7,7%. 

A balança comercial, que havia sido deficitária no ano anterior (-87 milhões), registou um saldo positivo (+159 milhões), com um grau de cobertura das importações pelas exportações de 107,2%.

2.2 – Importação de “Têxteis” por componentes

Em 2023 predominaram as importações de “Fibras e Fios” (39,9%), principalmente fios de algodão e de filamentos e fibras sintéticas, algodão não cardado ou penteado e fibras artificiais. Seguiram-se os “Tecidos”, com destaque para os tecidos de fios de filamentos sintéticos e de algodão, tecidos de malha, de lã penteada e de algodão, destinados em grande parte a serem utilizados na fabricação de vestuário para exportação, que representaram 28,1% das importações, os “Outros Têxteis” (19,8%), como tecidos impregnados ou revestidos a plástico, falsos tecidos, moldes para vestuário, sacos para embalagem, produtos para usos técnicos, fitas de matérias têxteis, encerados, toldos, tendas e velas, etiquetas, emblemas e semelhantes, entre outros. Os “Têxteis-Lar” representaram 12,3% do total das importações em 2023, como roupas de cama, mesa ou toucador e artigos para guarnição de interiores, entre outros.

2.3 – Mercados de origem das importações de “Têxteis”

À exepção dos Países Baixos (+3,9%), registaram-se quebras nos restantes nove principais países de origem das importações de “Têxteis” em 2023, face ao ano anterior.

Entre os dez principais mercados de origem predominaram a Espanha (18,6%), a Itália (15,1%), a China (10,0%), a Índia (9,8%) e a Alemanha (8,6%).

Com pesos inferiores alinharam-se depois a Turquia (6,9%), o Paquistão (6,3%), a França (4,2%), os Países Baixos (3,5%) e a Bélgica (2,3%).

2.4 – Exportação de “Têxteis” por componentes

Em 2023 predominou nas exportações a componente “Outros Têxteis” (34,2%), designadamente cordéis, cordas e cabos entrançados, tecidos impregnados ou revestidos com plástico, moldes para vestuário, artefactos têxteis para uso técnico e telas para pneus, entre outros. 

Seguiram-se os “Têxteis-Lar” (29,6%), com destaque para as roupas de cama, mesa, toucador ou cozinha, tapetes, artigos de guarnição de interiores, cobertores e mantas, cortinados e estores de interior, os “Tecidos” (24,5%) de malha ou algodão, de fios de filamentos e de fibras sintéticas, de lã penteada ou de linho, e os veludos e pelúcias, entre outros, e as “Fibras e Fios” (11,6%) de conteúdo muito variado, com destaque para os cabos de filamentos sintéticos, fios de algodão, de fibras ou filamentos sintéticos, monofilamentos e fios de lã cardada ou penteada, entre outros.

2.5 – Mercados de destino das exportações de “Têxteis”

Em 2023, entre os dez principais mercados de destino das exportações portuguesas de “Têxteis”, que representaram cerca de 70% do Total, apenas na Alemanha, na Roménia e em Marrocos se verificaram taxas de crescimento positivas face ao ano anterior.

Os principais destinos destas exportações foram a Espanha (17,0% do Total), a França (12,6%), os EUA (10,1%) e a Alemanha (8,0%).

3 – Comércio internacional português de                                                      “Vestuário e acessórios”

3.1 – Balança Comercial

A balança comercial do “Vestuário e acessórios” foi favorável a Portugal no período em análise. 

Com um saldo crescente entre 2019 a 2021, quando atingiu cerca de 1,1 mil milhões de Euros, o saldo decresceu a partir de então, situando-se em 436 milhões de Euros em 2023, na sequência de um aumento das importações de +4,4%, face ao ano anterior, com as exportações a decrecerem -3,9%, de acordo com os dados preliminares disponíveis.

3.2 – Importação de “Vestuário a acessórios” por componentes

Em 2023 a importação de “Vestuário de malha” representou 50,4% do Total, a de “Vestuário excepto malha” 45,8%, e a de “Outros acessórios” (3,8%). 


Entre o “Vestuário de malha” destacam-se as importações de camisolas, pulôveres e semelhantes, de ‘T-shirts’ e camisolas interiores, de fatos, conjuntos, casacos, vestidos, saias, calças e calções para senhora, de camisas para homem, de vestuário de trabalho e para desporto, meias-calças e meias como por exemplo para varizes, vestuário para bebés, combinações, saiotes, calcinhas, pijamas, robes e semelhantes para senhora, vestuário de tecido impregnado de borracha ou plástico, fatos conjuntos, casacos, calças e calções para homem. Este conjunto de produtos pesou em 2023 cerca de 88% deste tipo de vestuário.

No âmbito do “Vestuário excepto de malha” predominaram as importações de fatos, conjuntos, casacos, vestidos, saias, calças e calções para senhora, de fatos, casacos, calças e calções para homem, de fatos para desporto, fatos-macaco, fatos de banho e biquínis, calções e slips de banho, de casacos compridos, capas, anoraques e blusões, camiseiros e blusas de uso feminino, de camisas, sobretudos, capas e blusões de uso masculino, de suitiãs, cintas, espartilhos, ligas e artefactos semelhantes.

Este conjunto de produtos pesou, em 2023, cerca de 89% do Total deste tipo de vestuário.

Os “Outros acessórios”, com peso mais reduzido, centraram-se em chapéus e outros artefactos de uso semelhante, guarda-chuvas, sombrinhas e guarda-sois, flores artificiais, perucas, sobracelhas, pestanas, madeixas e artefactos semelhantes.

3.3 – Mercados de origem das importações                                                     de “Vestuário e acessórios”

Em 2023 o principal mercado de origem das importações de “Vestuário e acessórios” foi a Espanha, com 53,0% do Total.

Seguiram-se a Itália (9,2%), a França (7,1%), a China (6,5%), a Alemanha (5,2%), o Bangladeche (3,1%), os Países Baixos (2,6%), a Bélgica (2,2%), a Polónia (1,7%) e a Índia (1,6%).

3.4 – Exportação de “Vestuário e acessórios” por componentes

Nas exportações de “Vestuário e acessórios” prevaleceu o “Vestuário de malha”, que em 2023 representou 66,6% do Total, seguido do “Vestuário excepto de malha” (30,2%) e dos “Outros acessórios” (3,2%).

Entre o “Vestuário de malha” destacaram-se, em 2023, as exportações de “T-shirts”, camisolas interiores e semelhantes, de camisolas e pulôveres, cardigans e artigos semelhantes, de fatos de saia-casaco, conjuntos, casacos, vestidos, saias, calças, jardineiras e calções para senhora, de camisas de malha para homem, de meias-calça e meias de variados tipos incluindo para varizes, de fatos, conjuntos, casacos, calças, bermudas, jardineiras e calções para homem, e de vestuário e seus acessórios para bebé, produtos que que representaram cerca de 90% do Total.

No âmbito do “Vestuário excepto de malha” prevaleceram, em 2023, as exportações de fatos, conjuntos, casacos, calças e calções para homem, de fatos de saia-casaco, conjuntos, casacos, vestidos, saias, calças e calções para senhora, de camisas para homem, de camiseiros e blusas para senhora, de fatos de treino, fatos-macaco, fatos de banho e biquínis, de casacos compridos, anoraques e blusões para senhora, e de sobretudos, capas e blusões para homem, produtos que pesaram cerca de 90% no Total.

Os “Outros acessórios” centraram-se em chapéus e seus esboços não enformados, guarda-chuvas, sombrinhas e guarda-sois, partes de aves com penas e penugem, e flores artificiais.

3.5 – Mercados de destino das exportações de                                                 “Vestuário e acessórios”

Entre os dez principais destinos das exportações de "Vestuário e acessórios” em 2023 destacaram-se a Espanha (27,4%), a França (18,7%), a Alemanha (9,4%) e a Itália (8,3%). Seguiram-se o Reino Unido, incluindo a Irlanda do Norte (6,8%), os EUA (6,3%) e os Países Baixos (6,0%) e, com pesos inferiores, a Bélgica (2,3%), a Suécia (2,5%) e a Dinamarca (1,8%), países que, no seu conjunto, representaram cerca de 90% do Total.



Alcochete, 21 de Março de 2024.


  

terça-feira, 12 de março de 2024

Comércio internacional português do Calçado -2019-2023

 

Comércio Internacional português

do Calçado

(2019-2023)

( disponível para download  >> aqui )

1 - Introdução

As exportações portuguesas de calçado conheceram um processo de expansão a partir da segunda metade da década de 70 do século passado e com grande dinamismo a partir dos primeiros anos da década de 80, tornando-se numa das indústrias mais dinâmicas do país. Após um longo período de crescimento, seguiu-se uma fase de ajustamento estrutural às novas condições competitivas do mercado, principalmente por parte de países asiáticos. Sustentadamente crescentes desde o início da década de 80 do século passado, as exportações portuguesas de calçado para o Mundo atingiram 1,7 mil milhões de Euros em 2001, decrescendo tendencialmente a partir de então, até se situarem em cerca de 1,3 mil milhões em 2009.

A partir de 2009 estas exportações aumentaram sucessivamente, atingindo 2 mil milhões de Euros em 2017. Seguiram-se quebras até 2020, ano em que se situaram em 1,5 mil milhões, para recuperarem o crescimento sustentadamente até 2022 (2,1 mil milhões), situando-se em 1,9 mil milhões de Euros em 2023, de acordo com os dados preliminares disponíveis.

O peso do calçado na exportação global portuguesa, que em 2001 representava 6,3%, decresceu significativamente, representando 2,5% em 2023.

Neste trabalho vai-se analisar a evolução das importações e exportações portuguesas de calçado no período de 2019 a 2023, com base em dados definitivos do ‘Instituto Nacional de Estatística’ (INE) de 2019 a 2022, e preliminares para 2023, com última actualização em 9 de Fevereiro de 2024.

2 – Balança Comercial portuguesa do Calçado

A Balança Comercial é fortemente favorável a Portugal, com saldos da ordem dos mil milhões de Euros em 2021 e 2022 e 968 milhões em 2023, e elevados graus de cobertura das importações pelas exportações.

Em 2023 as importações, que no ano anterior haviam crescido +36,7%, decresceram ‑2,6%. Por sua vez as exportações, que em 2022 haviam aumentado +20,1%, decaíram ‑7,6%.

Ao longo do último quinquénio o peso no calçado nas importações globais representou cerca de 1%, tendo o peso das exportações descido de 3,1%, em 2019, para 2,5%, em 2023.

3 – Importação

3.1 – Importação por tipos de calçado

Em 2023 predominaram as importações de calçado com a parte superior em matérias têxteis e em couro, respectivamente 28,6% e 27,9% do Total.

Seguiram-se as partes de calçado, com 22,6% e o calçado com a parte superior em borracha ou plástico, 18,9%.

O conjunto do calçado não especificado reuniu 1,1% do total e o calçado impermeável 0,9%.

 

3.2 – Principais mercados de origem

No ano de 2023 tiveram origem no espaço comunitário 78,6% das importações de calçado (73,0% em 2022.

Os principais fornecedores foram a Espanha, com 33,4% do Total (30,9% em 2022) e a Alemanha (10,4% e 10,2% respectivamente).

Seguiram-se a Bélgica (10,3% e 8,4%), a Itália (9,1% nos dois anos), a China (8,2% e 9,1%)  e a França (7,8% e 7,5%).

Estes seis países representaram cerca de 80% das importações totais em 2023 (75% em 2022).


Principais mercados por tipos de calçado:


4 – Exportação

4.1 – Exportação por tipos de calçado

As exportações portuguesas incidem em sua grande parte no calçado com a parte superior em couro, o de maior valor, tendo representado 83,4% do Total nos dois anos em análise.

4.2 – Principais mercados de destino

Em 2023 destinaram-se ao espaço comunitário 80,2% das exportações de calçado (80,3% em 2022).

Os principais destinos foram a Alemanha (22,1% edm 2023 e 21,5% em 2022), a França (20,6% e 19,0%) e os Países Baixos (13,6% e 14,6%).

Seguiram-se a Espanha (7,8% e 7,6%), o Reino Unido (6,2% nos dois anos), os EUA (5,3% e 5,5%), a Dinamarca (3,7% e 4,8%),  Itália (3,1% e 2,7%), a Suécia (2,8% e 3,1%), a Bélgica (1,5% e 2,2%), , o Canadá, (1,4% e 1,5%), a Áustria (1,2% e 1,4%), a Irlanda (0,9% e 0,8%), a China (0,8% nos dois anos) e a Noruega (0,7% em ambos os anos.

Este conjunto de países representou 91,8% em 2023 e 92,4% em 2022).


Principais mercados por tipos de calçado:

  
     
            
5 – Índices de variação anual homóloga das importações e     exportações em Valor, Volume e Preço – 2019 a 2023

Nas figuras seguintes apresenta-se a evolução dos índices de Valor, Volume e Preço das importações e exportações de Calçado entre os anos de 2019 e 2023, com índices de preço calculados com base nas primeiras versões de cada um dos anos, indicando a experiência que não registam variações significativas face às versões definitivas.





Alcochete, 9 de Março de 2024.