Comércio Internacional Português
do Calçado
(2012 a 2017)
(disponível para download > aqui )
1 - Nota introdutória
O sector
português do calçado, essencialmente exportador, conheceu um processo de
expansão a partir dos anos 70 do século passado, no contexto da primeira fase
da integração europeia, e com grande força a partir de
meados da década de 80.
À medida
que os salários em Portugal se foram aproximando dos padrões europeus, houve
que se procurar novos factores de competitividade e de versatilidade, a par de
uma maior produtividade e cumprimento dos prazos de entrega, por forma a dar
resposta pronta às exigências dos mercados.
A
facilidade da sua implantação, devido à utilização de uma tecnologia
relativamente acessível e à forte componente de mão-de-obra, que justificaram a
entrada em Portugal de empresas multinacionais do sector, são as mesmas razões
que explicam mais tarde a deslocalização de empresas europeias, incluindo a
partir de Portugal, com consequente quebra na produção, para países menos
desenvolvidos, em particular asiáticos, onde os custos salariais são mais
baixos, gerando uma forte competitividade, situação que se tornou mais crítica
por altura da entrada da China na Organização
Mundial do Comércio (OMC) em 2001.
Ainda na década de 90, em vésperas
da entrada da China na OMC, houve já empresas que iniciaram então um processo
de modernização, assente num up-grade
da tecnologia aplicada, na utilização de recursos humanos mais qualificados e no
apuramento do “design”, visando um
maior valor acrescentado dos produtos face a uma quebra quantitativa da
produção, processo algo moroso, como se pode observar no andamento do gráfico principalmente
entre os anos 2001 e 2005.
A partir
de 2009, assistiu-se a uma recuperação sustentada das exportações, sendo um dos
objectivos deste trabalho analisar a evolução do sector entre 2012 e 2017.
No ponto 2 deste trabalho faz-se uma abordagem ao sector mundial do calçado
e à posição relativa de Portugal, para no ponto 3 se analisar a evolução do
comércio internacional português do sector nos últimos anos.
2 - Abordagem ao sector mundial do calçado
Os principais exportadores mundiais de calçado no
biénio 2015-2016 foram dois países asiáticos, a China e o Vietname, que
representaram em conjunto mais de metade da exportação mundial, com o último destes
países a ultrapassar a Itália, que mantinha a segunda posição no “ranking”. Seguiram-se a Alemanha, a
Bélgica, a Indonésia, a França, os Países Baixos, a Espanha, a Índia e, na 11ª
posição, Portugal, com 1,6% do total. Abaixo de Portugal, mas a curta
distância, seguiu-se o Reino Unido, e depois a Roménia, os EUA, a Polónia e o
Brasil. Este conjunto de 16 países representou, neste período, cerca de 88% das
exportações mundiais de calçado.
Como se
pode observar no quadro, o peso da exportação portuguesa de calçado para o
mundo desceu sustentadamente de 3,1% do total no biénio 2001-2002 (3,2% de
acordo com as estatísticas portuguesas), para 1,6% em 2015-2016, com o peso da
China a subir de 34,4% para 40,1% e o do Vietname de 3,7% para 11,5%.
Por tipos
de calçado, prevalece o calçado com a parte superior em couro, que viu contudo
o seu peso no total descer sucessivamente de 55,4%, no biénio 2001-2002, para
38,5% em 2015-2016, seguido do calçado de borracha ou plástico e do calçado com
a parte superior em têxteis, cujo peso subiu respectivamente de 18,9% para
27,5% e de 10,5% para 24,0% no mesmo período.
As partes
de calçado ocupam presentemente a quarta posição, tendo o seu peso no total
descido sucessivamente de 10,7% em 2001-2002 para 5,9% em 2015-2016.
Com peso
residual situam-se depois o calçado não especificado e o calçado impermeável de
borracha ou plástico.
3 – Comércio internacional português do calçado (2012 a 2017)
3.1 – Balança Comercial
A Balança
Comercial do calçado é amplamente favorável a Portugal, tanto no espaço
Intra-comunitário com em relação aos Países Terceiros, com elevados graus de
cobertura das importações pelas exportações.
Tanto as
importações como as exportações cresceram sustentadamente ao longo do período
de 2012 a 2017.
3.2 – Principais mercados de origem das importações de calçado
No
período em análise, o principal mercado de origem das importações portuguesas
de calçado foi a Espanha, com 33,9% do total em 2017.
Seguiram-se
neste ano a Itália (9,2%), a Alemanha (9,0%), a França (8,0%), a Bélgica (7,6%),
a China (7,0%), os Países Baixos (6,7%), a Indonésia (5,9%), a Índia (4,8%) e o
Reino Unido (1,8%), países que, no seu conjunto, representaram 93,9% do total
das importações de calçado neste ano.
Em 2017,
cerca de 80% das importações tiveram origem no espaço da União Europeia.
Face ao
ano anterior, as importações de calçado cresceram 37 milhões de Euros, cabendo um
aumento de 17 milhões à Indonésia, de 7 milhões ao Reino Unido, de 5 milhões à
Alemanha e de 3 milhões à Bélgica.
3.3 – Importações por tipos de calçado
Entre
2012 e 2017 a importação portuguesa de calçado representou cerca de 1% da
importação global.
Por tipos
de produtos, definidos ao nível de quatro dígitos da Nomenclatura Combinada em
uso na União Europeia, coincidente até seis dígitos com o Sistema Harmonizado
utilizado pela generalidade dos países, destaca-se a importação de calçado com
a parte superior em couro (27,6% em 2017), seguida do calçado com a parte
superior em têxteis (25,0%), das partes de calçado (22,9%) e de outro calçado
de borracha ou plástico, não impermeável (21,1%).
Com peso
residual alinham-se depois outro calçado não especificado (2,3%) e o calçado
impermeável, de borracha ou plástico (1,0% do total em 2017).
Em 2017,
face a 2012, os maiores aumentos em Euros verificaram-se nas importações de
calçado com a parte superior de têxteis (+108,2 milhões de Euros), de calçado
de borracha ou plástico, não impermeável (+65,4 milhões), de partes de calçado
(+61,8 milhões) e de calçado com a parte superior de couro (41,7 milhões de
Euros).
Do quadro
seguinte constam os principais mercados de origem das importações portuguesas por
tipos de calçado, em 2017.
3.4 – Principais mercados de destino das exportações de calçado
O Peso
das exportações de calçado para o espaço Extra-comunitário no total aumentou de
9,4%, em 2012, para 14,0%, em 2017, com as exportações para os parceiros
comunitários a crescerem também, mas a um ritmo inferior.
Entre
2012 e 2015 os principais mercados de destino das exportações portuguesas de
calçado foram a França (20,8% do total em 2017), a Alemanha (19,1%), os Países
Baixos (14,0%) e a Espanha (9,1%).
Com
quotas inferiores alinharam-se depois, ainda em 2017, o Reino Unido (6,2%), a
Dinamarca (5,3%), os EUA (3,6%), a Itália (2,8%), a Bélgica (2,4%), e a Suécia
(2,0%).
De 2012 a
2017, entre os dez países, aqueles em que o calçado deteve anualmente o maior
peso no total das exportações com esse destino foram a Dinamarca (29,8% em
2017) e os Países Baixos (12,7%). Em 2017 seguiram-se a Suécia (7,9%), a Alemanha
e da França (6,1% cada).
3.5 – Exportações por tipos de calçado
De 2012 e
2017 a exportação portuguesa de calçado representou entre 3,6% e 4,0% da
importação global. Por tipos
de produtos, definidos ao nível de quatro dígitos da Nomenclatura Combinada,
destaca-se a exportação de calçado com a parte superior em couro (85,0% do
total em 2017), seguida do calçado de borracha ou plástico, não impermeável
(5,0%), do calçado com a parte superior de têxteis (3,3%), das partes de
calçado (2,6%), de outro calçado não especificado (2,2%) e do calçado
impermeável de borracha ou plástico (1,9%).
Em 2017,
face ao valor que detinham em 2012, os maiores aumentos em Euros verificaram-se
nas exportações de calçado com a parte superior de couro (+293,9 milhões de
Euros) e de calçado de borracha ou plástico, não impermeável (+62,7 milhões).
Aumentaram também as exportações de calçado com a parte superior de têxteis
(+26,1 milhões), de calçado impermeável de borracha ou plástico (+12,1 milhões)
e de partes de calçado (+7,2 milhões), tendo diminuído as de outro calçado, não
especificado (‑34,8 milhões de Euros).
Do quadro
seguinte constam os principais mercados de destino das exportações portuguesas
por tipos de calçado, em 2017.
3.6 – Índices de variação homóloga das exportações de calçado em
valor, volume e preço
Foram calculados os índices de
evolução em preço, do tipo Paasche, para as exportações de cada tipo de
calçado, e daí para o total, a partir dos respectivos dados elementares a oito
dígitos da Nomenclatura Combinada divulgados pelo INE para o ano de 2017, em
versão ainda preliminar, com base no ano anterior.
Estes índices de preço foram
depois utilizados como deflatores dos índices de valor para o cálculo dos
correspondentes índices de volume.
De acordo
com os dados disponíveis, verifica-se que as exportações de calçado em 2017,
terão crescido +2,7% em valor, +2,6% em volume e +0,1% em preço, face ao ano
anterior.
O maior
aumento em volume coube ao calçado com a parte superior de têxteis (+59,9%),
seguido do calçado impermeável de borracha ou plástico (+7,3%), do calçado de
borracha ou plástico não impermeável (+2,1%) e do calçado com a parte superior
em couro (+1,2%). Registaram-se quebras em volume nas exportações do calçado
não especificado (-4,0%) e das partes de calçado (-3,7%).
Verificaram-se
aumentos em preço na exportação de partes de calçado (+12,4%), no calçado de
borracha ou plástico, não impermeável (+3,6%), no calçado não especificado
(+2,2%) e no calçado com a parte superior de couro (+0,2%), e decréscimos no
calçado com a parte superior de têxteis (-11,9%) e no calçado impermeável de
borracha ou plástico (‑3,0%).
Alcochete, 4 de Maio de 2018.
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