preparações, conservas e
outros produtos do mar
1 – Nota introdutória
Portugal, detentor de uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas (ZEE), mantém no âmbito da pesca, preparações, conservas e outros produtos do mar, uma balança comercial deficitária, tendo as importações (Fob) registado em 2020 um valor duas vezes superior ao das exportações (Fob), e 1,8 vezes em 2021.
Neste trabalho vai-se analisar a evolução destas trocas comerciais em 2021, face a 2020, a partir de dados de base divulgados no Portal do Instituto Nacional de Estatística em versão definitiva para 2020 e preliminar para 2021, com última actualização em 11 de Março de 2022.
2 - Peso destes produtos no comércio internacional português
As importações deste conjunto de produtos representaram 3,1% das importações globais em 2017 e 2,5% em 2021. Por sua vez, o peso das exportações decresceu, neste mesmo período, de 1,9% para 1,7%.
3 – Balança Comercial
Em 2020 e 2021 a Balança Comercial destes produtos do mar foi deficitária,
com défices (Fob-Cif) respectivamente de -1026,4 e -976,5 milhões de Euros. Em
2021 as importações cresceram em valor +7,7% e as exportações +22,1%, tendo-se
o saldo negativo reduzido -4,9% face ao ano anterior. Por sua vez, o grau de
cobertura das importações pelas exportações subiu de 46,7% para 53,0%.
Entre os agregados de produtos
que vão ser considerados destacam-se, tanto nas importações como nas
exportações, o “Peixe”, os “Crustáceos, moluscos e outros
invertebrados aquáticos” e as “Preparações e conservas de peixe,
crustáceos e moluscos”, produtos que representaram 98,1% e 98,0% respectivamente
em 2020 e 2021.
No quadro seguinte pode observar-se a Balança Comercial das sete componentes consideradas. O único agregado em que o saldo da Balança em 2021 foi favorável foi “Preparações e conservas de peixe, crustáceos e moluscos”, +32,0 milhões de Euros (+24,4 milhões em 2020). Os maiores défices incidiram nos agregados “Peixe” (-728,1 milhões de Euros em 2021 e -783,1 milhões em 2020) e “Crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos” (-263,5 e – 248,4 milhões, respectivamente).
Apresentam-se em Anexo quadros e gráficos com a Balança Comercial da desagregação das diversas componentes por produtos a quatro ou a seis dígitos da Nomenclatura Combinada, com indicação do valor e das quantidades transaccionadas nos anos em análise.
4 - Importação
Em 2021 as importações
cresceram +7,7% face ao ano anterior (+149,0 milhões de Euros). O maior
acréscimo, face ao ano anterior, coube a “Crustáceos, moluscos e outros
invertebrados aquáticos” (+121,5 milhões de Euros), seguido de “Peixe”
(+27,9 milhões).
Nas importações de “Peixe” assumem particular relevância as de bacalhau, nos seus diversos estados, que são mais adiante analisadas com algum pormenor.
4.1 – Mercados de origem
Em 2021 os principais fornecedores destes produtos foram a Espanha (42,6% do Total), a Suécia (13,2%), os Países Baixos (7,1%), a Dinamarca (3,4%), a China (3,3%), a Federação Russa (2,3%), a Índia (2,2%) e o Equador (2,1%), países que averbaram 76,2% do Total. Os maiores acréscimos, em Euros, couberam a Espanha (104,1 milhões), à Suécia (+24,4 milhões) e ao Equador (+10,4 milhões), tendo a maior quebra incidido nos Países Baixos (-20,2 milhões).
5- Exportação
Em 2021 as exportações
aumentaram, em termos homólogos, +22,1% (+199 milhões de Euros). Registaram-se
acréscimos em todas as componentes, com destaque para “Crustáceos, moluscos
e outros invertebrados aquáticos” (+106,4 milhões de Euros) e “Peixe”
(+82,9 milhões).
Seguiram-se “Produtos da
pesca impróprios para a alimentação humana” (+3,5 milhões), “Sal,
águas-mãe de salinas e algas” (+3,1 milhões), “Preparações e conservas
de peixe, crustáceos e moluscos” (+2,9 milhões), e “Gorduras e óleos de
peixe e mamíferos aquáticos” (+123
mil Euros).
Os principais mercados de destino das exportações em 2021
foram a Espanha (50,3%), a França (11,9%), a Itália (10,3%, o Brasil (5,8%), os
EUA (3,8%) e o Reino Unido (2,3%), países que absorveram 84,4% do Total. Os
principais acréscimos, em Euros, couberam a Espanha (+128,2 milhões), aos EUA
(+16,5 milhões), a Itália (+16,4 milhões) e a França (12,4 milhões). O maior
decréscimo coube ao Reino Unido (-7,9 milhões).
6 – Importação e exportação de sardinha
São conhecidas as limitações impostas à pesca da sardinha,
importante para o sector de exportação das conservas, em zonas em que operam
habitualmente os pescadores portugueses e espanhóis, face à acentuada redução
do “stock” verificada ao longo da última década, tendo havido mesmo um
parecer científico do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES) que
aconselhava a sua proibição.
Em 2021, face ao ano anterior, reduziu-se a importação de “Sardinha fresca, refrigerada ou congelada” (-2,2% em valor e -11,1% em quantidade), tendo aumentado a sua exportação (+12,6% em valor e +35,3% em quantidade).
7 – Importação e exportação de
bacalhau
É sabido que o bacalhau ocupa
uma posição importante na dieta alimentar dos portugueses. Nos anos em análise
o valor da importação de bacalhau, nos seus diversos estados, foi cerca de três
vezes superior ao da exportação. Em 2021 a sua importação pesou 23,7% no Total dos
produtos do mar e 15,8% na vertente da exportação.
Entre os vários tipos de
bacalhau destaca-se, nas importações, o seco, salgado, em salmoura ou fumado,
que representou 65,4% do Total, seguido do congelado (26,4%). Nas exportações
prevaleceram os filetes em qualquer estado (33,3%), seguidos do seco, salgado,
em salmoura ou fumado (29,4%), e do congelado (25,6%).
Sabe-se contudo que uma grande parte do bacalhau consumido em Portugal tem origem na Noruega, país extracomunitário limítrofe da Suécia. Tudo indica que a prevalência da Suécia entre os fornecedores contabilizados pelo INE reside no facto de ser este um país de “introdução em livre prática” na UE do bacalhau norueguês destinado a Portugal, depois de cumpridas as formalidades aduaneiras.
Os principais mercados de destino das exportações de bacalhau em 2021 foram o Brasil (39,3%), a França (17,6%) e a Espanha (10,9%).
Alcochete, 7 de Abril de 2022.
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