sábado, 25 de novembro de 2017

Comércio Internacional Portugal-Moçambique (2012-2016 e Jan-Set 2017)


Comércio internacional de mercadorias
Portugal-Moçambique 
(2012-2016 e Janeiro-Setembro 2016-2017)

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1 – Nota introdutória
Moçambique é um dos quinze membros da SADC (Southern Africa Development Community – Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), organização criada em 1992 que tem entre os seus principais objectivos aprofundar a cooperação económica entre os seus membros, com base no equilíbrio, igualdade e benefícios mútuos, proporcionando um livre movimento dos factores de produção através das fronteiras nacionais e estimular o comércio de produtos e serviços entre os países membros.

De acordo com dados estatísticos divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique no Anuário Estatístico de 2016, a SADC foi o destino de 27,9% das exportações totais de mercadorias moçambicanas em 2016, cabendo 22,7% à África do Sul. Por sua vez, 33,5% das importações realizadas por Moçambique no mesmo ano tiveram origem no espaço da SADC, tendo 30,7% destas mercadorias sido fornecidas pela África do Sul.
Moçambique foi também, em 1996, um dos fundadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que tem entre os seus objectivos, no âmbito da cooperação em todos os domínios, o desenvolvimento de parcerias estratégicas e o levantamento de obstáculos ao desenvolvimento do comércio internacional de bens e serviços entre os seus actuais nove membros.
De acordo com a mesma fonte, as exportações moçambicanas de mercadorias em 2016 para o conjunto dos seus parceiros na CPLP representaram apenas 1,1% do total, cabendo 1,0% a Portugal.
Na vertente das importações, a CPLP foi a origem de 6,4% das mercadorias, cabendo 5,9% a Portugal e 0,6% ao Brasil.
Neste trabalho encontra-se reunido um breve conjunto de dados sobre o comércio externo de Moçambique, para o que se utilizaram dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique nos seus Anuários Estatísticos, e também do International Trade Centre (ITC) no caso dos produtos envolvidos.
Analisa-se também aqui, com algum detalhe, a evolução das importações e das exportações de mercadorias entre Portugal e Moçambique ao longo dos últimos cinco anos (2012 a 2016) e no período acumulado de Janeiro a Setembro de 2016 e 2017, com base em dados estatísticos divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE), com última actualização em 9 de Novembro de 2017.
2 – Alguns dados sobre o comércio externo de Moçambique
O ritmo de evolução em valor das importações de mercadorias em Moçambique decresceu entre 2013 e 2016, decrescendo também o das exportações a partir de 2014.


De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique no Anuário Estatístico para os anos de 2012 a 2016, a Balança Comercial de mercadorias (fob-cif) do país foi deficitária, tendo-se assistido em 2016, de acordo com os dados disponíveis, a uma descida significativa das importações (-37,4%), com prática estagnação das exportações (-2,2%).
Esta descida acentuada das importações, associada ao comportamento das exportações, conduziu a um défice da balança de cerca de -1,7 mil milhões de Euros (-61,7% face ao do ano anterior), o mais baixo dos últimos cinco anos, com o grau de cobertura das importações pelas exportações (Fob/Cif) a situar-se em 63,9%.

Em 2016, de acordo com os dados veiculados pela mesma fonte sobre as importações efectuadas pelo país, Portugal terá ocupado a 5ª posição entre os principais fornecedores de mercadorias (5,9% do total das importações), cabendo o primeiro lugar à África do Sul (30,7%), seguida de Singapura (9,1%), da China (8,1%) e da Índia (6,3%).
No mesmo ano, os principais destinos das exportações moçambicanas foram a África do Sul (22,7%), os Países Baixos (21,0%) e a Índia (19,0%), seguidos de Singapura (4,1%), da China (3,9%) e dos EUA (2,9%). Portugal ocupou aqui a 16ª posição (1,0%), precedido dos países atrás citados e de Hong-Kong (1,8%), do Reino Unido (1,8%), da Zâmbia (1,7%), da Espanha (1,7%), da Bélgica (1,4%), da Itália (1,3%), do Zimbabwe (1,2%), da França (1,1%) e da Turquia (1,1).


Na análise da evolução do comércio externo de Moçambique por Grupos de Produtos (ver em tabela anexa o conteúdo dos grupos com base nos capítulos do Sistema Harmonizado - Anexo-1), foi utilizada a base de dados do International Trade Centre (ITC), em alternativa aos dados do INE de Moçambique, o que, para além de permitir calcular o peso de Portugal em cada um dos grupos em 2016, permite identificar os principais produtos transaccionados desagregados a quatro dígitos da nomenclatura do Sistema Harmonizado.
Há naturalmente um desfasamento entre os totais das duas fontes, principalmente no ano de 2012, que contudo não é relevante em 2016 para o fim em vista (ver quadro no Anexo-2). Em termos globais, Portugal representou 5,9% das importações em 2016, segundo o INE de Moçambique, e 5,8% segundo as estatísticas do ITC, e 1,0% das exportações de acordo com ambas as fontes).
Nas importações, destacaram-se em 2016 as do grupo “Máquinas, aparelhos e partes” (20,1% do total), muito diversificadas, que registaram uma quebra significativa em valor face ao ano anterior, tendo Portugal contribuído com uma quota de 10,6% para os fornecimentos deste grupo. 


Seguiram-se, por ordem decrescente do seu peso no total, os grupos:
“Energéticos” (19,2%, com uma quota de 0,3% para Portugal), em sua grande parte constituídos por refinados de petróleo e energia eléctrica;
“Químicos” (15,9% e quota de 4,0%), principalmente sais de fluor, medicamentos, substâncias odoríferas para a indústria, reagentes de diagnóstico ou de laboratório, insecticidas e herbicidas, pneus novos, produtos de lavagem e limpeza, embalagens, rolhas, cápsulas tubos e outros produtos de plástico, adubos, sangue para uso médico, soros e vacinas;
“Agro-alimentares (15,3% e quota de 4,1%), com destaque para o arroz, trigo, milho, peixe congelado, óleos de palma, de soja, de girassol, de cártamo ou de algodão, cerveja, cebolas, alhos e outros produtos hortícolas, vinhos e sumos de frutas, entre outros;
“Minérios e metais” (10,6% e quota de 8,2%), principalmente alumínio em formas brutas, construções em ferro ou aço, cimento hidráulico, barras, tubos, laminados, perfis, parafusos, porcas, rebites e outros produtos de ferro ou aço, construções em alumínio, minérios de ferro e seus concentrados;
“Material de transporte terrestre e partes” (6,6% e quota de 2,2%), designadamente veículos automóveis e tractores, suas partes e acessórios, reboques, partes de veículos e material para via férrea, e bicicletas;
“Produtos acabados diversos” (4,6% e quota de 15,9%), principalmente mobiliário, instrumentos médicos, garrafas e embalagens de vidro, ladrilhos cerâmicos, candeeiros e outros aparelhos de iluminação, construções pré-fabricadas, assentos mesmo transformáveis em cama, lavatórios, banheiras e sanitários de cerâmica, e aparelhos de raios-X, entre muitos outros;
“Têxteis e vestuário” (3,1% e quota de 2,8%), com destaque para os artefactos têxteis e calçado usados, tecidos, fios e fibras para fiação, sacos para embalagem, cordéis, cordas e cabos, T-shirts e vestuário diverso;
“Madeira, cortiça e papel” (2,7% e quota de 16,1%), como caixas, sacos e embalagens de papel e cartão, livros, selos, papel higiénico, lenços, fraldas e pensos, obras de carpintaria para construção, papel e cartão para escrita em rolos, madeira serrada ou em bruto e contraplacados;
“Aeronaves, embarcações e partes” (1,3% e quota de 0,4%), designadamente veículos aéreos e suas partes;
  “Calçado, peles e couros” (0,5% do total com uma quota de 5,7% para Portugal), com predomínio do calçado e suas partes, mas também malas, pastas, estojos e carteiras, vestuário e acessórios em couro, e couros após curtimenta.

Na vertente das exportações destacou-se, em 2016, o grupo “Minérios e metais” (35,8% do total e uma quota praticamente nula para Portugal), com predomínio do alumínio em formas brutas, em barras, perfis ou fios, minérios de titânio e seus concentrados, pedras preciosas e semi-preciosas, e minérios de nióbio, de tântalo, de vanádio e de zircórnio.


Seguiram-se, por ordem decrescente do seu peso na estrutura, os grupos:
Energéticos” (27,9% do total e quota praticamente nula para Portugal), principalmente energia eléctrica, seguida do gás natural e do coque de hulha, linhite, turfa e carvão de retorta;
“Agro-alimentares” (15,5% e uma quota de 5,7% para Portugal), principalmente tabaco não manufacturado, açúcar de cana, crustáceos, cocos, cajú e outros frutos de casca rija, bananas, legumes de vagem em grão, vinhos, óleos de girassol, de cártamo ou de algodão e outras oleaginosas;
 “Quimicos” (13,9% e quota praticamente nula para Portugal), essencialmente “kiselguhr” activado, outras matérias naturais activadas incluindo negros de origem animal, e adubos;
”Aeronaves, embarcações e partes” (2,5% do total e quota nula para Portugal), essencialmente embarcações;
●  ”Madeira, cortiça e papel” (1,3% e quota praticamente nula para Portugal), como madeira serrada, em bruto ou perfilada e selos com curso no país de destino;
“Têxteis e vestuário” (1,2% do total e quota de 4,4% para Portugal), principalmente perucas, pestanas e análogos, algodão cardado ou não, fios de algodão, cairo e outras fibras têxteis vegetais;
“Máquinas, aparelhos e partes” (1,1% do total e quota de 1,1% para Portugal), muito diversificadas.
Os restantes grupos de produtos registaram pesos em relação ao total das exportações de apenas 0,5% e inferiores: “Material de transporte terrestre e partes” (0,5% e quota de 0,2%), “Produtos acabados diversos” (0,3% e quota de 4,3%) e “Calçado, peles e couros” (0,1% do total e quota de 1,2% para Portugal.
3 – Comércio de mercadorias de Portugal com Moçambique
As importações anuais de Portugal com origem em Moçambique, após uma descida em 2014, têm-se mantido num patamar praticamente constante desde então.



Por sua vez as exportações, tendencialmente crescentes desde 2012, registaram uma quebra abrupta em 2016.
3.1 – Balança Comercial
A Balança Comercial de mercadorias com Moçambique é amplamente favorável a Portugal. Ao longo dos últimos cinco anos o maior saldo ocorreu em 2015, com +317,3 milhões de Euros, seguido de uma acentuada quebra no ano seguinte (‑43,6%), ao reduzir-se para +178,9 milhões de Euros. 

Nos primeiros nove meses de 2017 registou-se uma descida face ao período homólogo do ano anterior (-25,5%), com o saldo a situar-se em +105,4 milhões de Euros.
Este resultado ficou a dever-se principalmente ao comportamento das exportações que, tendo acusado uma quebra de -39,5% em 2016, registaram uma descida de ‑19,3% no período em análise de 2017.
Dado o significativo desfasamento entre o valor das importações e das exportações de mercadorias, o grau de cobertura das primeiras pelas segundas é muito elevado.
3.2 – Importações por grupos de produtos
Ao longo dos últimos cinco anos e primeiros nove meses de 2017, as importações portuguesas de mercadorias com origem em Moçambique incidiram em sua grande parte no grupo de produtos “Agro-alimentares”, que representou 96,1% do total no período em análise de 2017 e 89,6% em igual período do ano anterior.

No período de Janeiro a Setembro de 2017, face ao período homólogo de 2016, verificou-se um acréscimo nas importações de +13,4% (+3,6 milhões de Euros), que ficou a dever-se a um substancial aumento verificado no grupo “Agro-alimentares” (+5,1 milhões de Euros), principalmente peixe, crustáceos e moluscos, com prevalência dos crustáceos.
Entre os grupos de produtos com maior peso verificaram-se quebras nos grupos “Têxteis e vestuário” (-1,2 milhões de Euros), “Máquinas, aparelhos e partes” (‑649 mil Euros) e “Material de transporte terrestre e partes” (-222 mil Euros) e acréscimos nos grupos “Minérios e metais” (+269 mil Euros), “Madeira, cortiça e papel” (+170 mil Euros) e “Químicos” (+100 mil Euros), tendo estagnado as importações de “Produtos acabados diversos”.


3.3 – Exportações por grupos de produtos
As exportações portuguesas para Moçambique registaram em 2016 uma descida de -39,5% (-140,3 milhões de Euros) face ao ano anterior, com quebras em todos os onze Grupos de Produtos, incidindo as mais significativas nos grupos “Máquinas, aparelhos e partes” (-53,3 milhões de Euros), “Minérios e metais” (-22,0 milhões), “Energéticos” (-15,6 milhões), “Químicos” (-15,2 milhões), e “Produtos acabados diversos” (-12,5 milhões de Euros).

No período de Janeiro a Setembro de 2017 assistiu-se também a uma descida das exportações face ao período homólogo do ano anterior (-19,3%, ou seja -32,4 milhões de Euros).
Registaram-se quebras em nove dos onze grupos de produtos, incidindo a mais volumosa no grupo “Máquinas, aparelhos e partes” (-15,6 milhões de Euros), seguida das dos grupos “Minérios e metais” (-8,3 milhões), “Produtos acabados diversos” (-5,7 milhões), “Agro-alimentares” (-2,4 milhões), “Material de transporte terrestre e partes” (-1,5 milhões), “Energéticos” (-1,2 milhões), “Calçado, peles e couros” (-610 mil Euros), “Têxteis e vestuário” (-260 mil) e “Aeronaves, embarcações e partes” (-16 mil Euros).
Por sua vez, verificaram-se acréscimos nas exportações dos grupos “Químicos” (+2,3 milhões de Euros) e “Madeira, cortiça e papel” (+801 mil Euros).
Neste período, o grupo com maior peso no total foi “Máquinas, aparelhos e partes”, que de Janeiro a Setembro de 2017 representou 30,8% das exportações com este destino, com predomínio dos transformadores eléctricos, fios e cabos eléctricos, aparelhos telefónicos, quadros eléctricos, interruptores e seccionadores, aparelhos de ar condicionado, refrigeradores e congeladores, computadores e suas unidades, motores e geradores, torneiras e válvulas, entre muitos outros.
Seguiu-se o grupo “Químicos” (15,8%), com destaque para os medicamentos e outros produtos farmacêuticos, plásticos e suas obras, entre outros produtos das indústrias químicas.
As exportações do grupo “Agro-alimentares” (13,4%) incidiram em sua grande parte nas preparações e conservas de peixe, azeite, gorduras e óleos, vinhos, preparações à base de cereais e leite, cerveja, peixe congelado, enchidos de carne, café, sumos de frutas e de produtos hortícolas, frutas e outras preparações alimentícias.
No grupo dos “Produtos acabados diversos” (11,8%), muito diversificados, salientou-se o mobiliário, os produtos cerâmicos, como ladrilhos para pavimentação ou revestimento, os candeeiros, os assentos mesmo transformáveis em cama, os instrumentos e aparelhos de precisão incluindo para medicina, a pedra trabalhada de cantaria ou construção, e o vidro e suas obras, entre muitos outros.
No grupo “Madeira, cortiça e papel (11,5%) evidenciaram-se as exportações de livros e outros produtos das indústrias gráficas, de papel, cartão e suas obras, de obras de marcenaria e peças de carpintaria para construção e de papel higiénico.
Nas exportações do grupo “Minérios e metais” (10,7%) destacaram-se as de produtos de ferro ou aço, como por exemplo elementos de pontes, torres, pórticos, colunas, portas, janelas e seus caixilhos, tubos e perfis, as de barras e perfis de alumínio, as guarnições e ferragens em metais comuns para móveis, portas, janelas e persianas, a cutelaria, os talheres e outras obras de metais comuns, e ferramentas, entre outras.
Os restantes cinco grupos de produtos representaram, no seu conjunto, apenas cerca de 6% do total: “Têxteis e vestuário (2,5%), “Material de transporte terrestre e suas partes” (1,7%), “Energéticos” (1,1%), “Calçado, peles e couros” (0,7%) e “Aeronaves, embarcações e partes” (0,02%).


ANEXO -1


 ANEXO -2


              25 de Novembro de 2017.

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