quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Comércio Externo de Moçambique - Trocas comerciais de Portugal com Moçambique (2019-2020 e Jan-Nov 2021)

 

Comércio Externo de Moçambique
Trocas comerciais de Portugal com Moçambique
(2019-2020 e Jan-Nov 2020-2021)
   

                                    ( disponível para download  >> aqui )

1 – Nota introdutória

Entre outras organizações, Moçambique é um dos estados-membros da “Southern Africa Development Community – Comunidade de Desenvolvimento da África Austral” (SADC), Comunidade que integra actualmente dezasseis países: Africa do Sul, Angola, Botswana, Comores, Eswatini (a antiga Suazilândia), Lesotho, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Congo (RD), Seychelles, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe.

Organização criada em 1992, na sequência do fim do apartheid na África do Sul, sucedendo à SADCC, esta criada em 1980 por nove dos actuais membros da SADC, tem entre os seus principais objectivos aprofundar a cooperação económica e estimular o comércio de produtos e serviços entre os seus membros. As línguas oficiais são o inglês, o português e o francês,

Moçambique foi também, em 1996, um dos fundadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” (CPLP), a par de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal e São Tomé e Príncipe. Em 2002 foi admitido Timor-Leste e mais recentemente, em 2014, a Guiné-Equatorial, observador associado desde 2006.

Entre os objectivos da CPLP, no âmbito da cooperação em todos os domínios, situa-se o desenvolvimento de parcerias estratégicas e o levantamento de obstáculos ao desenvolvimento do comércio internacional de bens e serviços, tornando-o assim numa importante alavanca para o desenvolvimento do espaço económico lusófono e consequente melhoria das condições de vida das suas populações.

Neste trabalho encontra-se reunido um conjunto de dados sobre o comércio externo de Moçambique em 2019 e 2020, com base em estatísticas constantes da publicação “Estatísticas do Comércio Externo de Bens - 2020”, do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique.

Analisa-se depois a evolução das importações e das exportações de mercadorias de Portugal com Moçambique em 2019 e 2020 e período acumulado de Janeiro a Novembro de 2020 e 2021.

2 – Comércio Externo de Moçambique

As importações de mercadorias em Moçambique cresceram acentuadamente entre 2016 e 2019, para desacelerarem fortemente em 2020.

Por sua vez, as exportações, após uma subida acentuada de 2016 para 2017, mantiveram-se na mesma ordem de grandeza até 2019, para desacelerarem também em 2020, até um nível pouco acima do que detinham em 2016


2.1 - Balança Comercial (2016-2020)

Os dados de base, de fonte moçambicana, publicados em dólares, foram neste trabalho convertidos a Euros. De acordo com os dados disponíveis, a Balança Comercial de mercadorias (fob-cif) do país foi deficitária entre 2016 e 2020, com um défice nos dois últimos anos da ordem dos -2,5 mil milhões de Euros. Em 2020 registaram-se quebras em valor de ‑14,6% nas importações e de -24,7% nas exportações.


2.2 – Importações por grupos de produtos (2019-2020)

A importações e exportações de produtos estão neste trabalho agregadas em onze grupos de produtos (ver conteúdo definido em Anexo).

As principais importações moçambicanas em 2020 incidiram no grupo “Agro-alimentares” (19,8% do Total), principalmente peixe congelado, carne de aves domésticas e outra, leite e lacticínios.

Seguiram-se os grupos “Químicos”, 18,5% do Total, com destaque para os aglutinantes para moldes de fundição, produtos farmacêuticos, reagentes de laboratório, insecticidas, adubos e fertilizantes, entre outros, “Máquinas, aparelhos e partes” (17,4%), principalmente não eléctricas, “Energéticos” (14,3%), designadamente combustíveis, óleos e energia eléctrica, “Minérios e metais” (10,7%), principalmente ferro, aço e suas obras, alumínio e suas obras,  ferramentas e cimento, e “Material de transporte terrestre e partes” (7,9%), principalmente veículos automóveis com predominância dos de transporte de mercadorias, e também tractores e atrelados. Com pesos inferiores alinharam-se depois os grupos “Produtos acabados diversos” (5,3%), “Têxteis e vestuário” (3,2%), “Madeira, cortiça e papel” (1,9%), “Calçado, peles e couros” (0,6%) e “Aeronaves, embarcações e partes” (0,5%).

A quota de Portugal no conjunto das importações em 2020, de acordo com os dados oficiais moçambicanos, foi de 3,6%, tendo as maiores quotas incidido nos grupos “Produtos acabados diversos” (12,4%), “Madeira, cortiça e papel” (9,0%), “Têxteis e vestuário” (7,1%), “Minérios e metais” (4,0%), “Químicos” (3,9%) e “Máquinas, aparelhos e partes” (3,6%).

2.3 – Exportações por grupos de produtos (2019-2020)

Em 2020, os grupos de produtos dominantes nas exportações de Moçambique foram “Energéticos” (38,2% do Total), designadamente carvão, energia eléctrica e gás natural, “Minérios e metais” (38,1%), principalmente alumínio e suas obras, e minérios de titânio, tântalo, vanádio, nióbio e zircónio, e “Agro-alimentares” (17,8% do Total), com destaque para os crustáceos, castanha de cajú, bananas, oleaginosas, frutos leguminosos secos, tabaco e açúcar.

Seguiram-se os grupos “Têxteis e vestuário” (1,9%), “Madeira, cortiça e papel” (1,7%), “Químicos” (1,2%) e, com pesos inferiores a 1,0%, “Máquinas, aparelhos e partes”, “Produtos acabados diversos”, “Aeronaves, embarcações e partes” e “Calçado, peles e couros”.

A quota de Portugal no conjunto das exportações moçambicanas em 2020, de acordo com dados oficiais do país, foi de apenas 0,6%, tendo as maiores quotas incidido nos grupos “Produtos acabados diversos” (4,8%), “Agro-alimentares” (3,0%), “Têxteis e vestuário” (2,8%), “Máquinas, aparelhos e partes” (2,5%) e “Calçado, peles e couros” (2,1%).

2.4 – Mercados de origem das importações (2019-2020)

Em 2020 o principal mercado de origem das importações moçambicanas foi a África do Sul (30,8%), seguida da China (10,7%) e da Índia (9,0%). Neste ano Portugal ocupou a 6” posição, com 3,6% do Total, precedido destes países, dos Emiratos e de Singapura.

Os quadros estatísticos constantes da publicação do INE de Moçambique, que serviram de base a este trabalho, não incluem as Ilhas Comores no conjunto dos estados-membros da SADC, embora o país tenha sido admitido na organização em 2017, tornando-se membro de pleno direito em Agosto de 2018.  As importações com origem no espaço da SADC, excluindo as ilhas Comores, representaram 33,7% do Total em 2020 (32,0% em 2019), cabendo à África do Sul uma quota de cerca de 90% nos dois anos.

As importações de Moçambique com origem no espaço da UE-27 (Reino Unido excluído) representaram 10,6% das importações globais em 2020 (12,0% em 2019), tendo Portugal sido o primeiro fornecedor neste contexto (33,5% em 2020 e 30,2% em 2019).

Seguiram-se, em 2020, entre os principais fornecedores comunitários, a Itália (16,0%), a Alemanha (11,9%), os Países Baixos (8,2%), a França (5,8%), a Bélgica e a Espanha (5,5% cada).


2.5 – Mercados de destino das exportações (2019-2020)

Em 2020 o principal mercado de destino das exportações de Moçambique foi ainda a África do Sul, 23,1% em 2020 e 18,2% em 2019, seguida, em 2020, pela Índia 11,8%, Reino Unido 10,2%, China 7,3%, Itália 6,6% e Países Baixos 5,7%, tendo Portugal pesado 0,6% no Total.

Em 2020 as exportações no âmbito da SADC representaram 29,3% do Total para o Mundo (22,6% em 2019), com destaque para a África do Sul, 78,7% e Zimbabwe 10,9%.

As exportações para a UE-27 (Reino Unido excluído) pesaram 24,0% em 2020 (27,6% no ano anterior), tendo Portugal ocupado a 6ª posição no ‘ranking’, com 2,6%, precedido da Itália, 27,7%, dos Países Baixos, 24,0%, da Bélgica, 15,9%, da Espanha, 12,2% e da Polónia, 9,0%.

3 – Comércio Internacional de Portugal com Moçambique

As importações portuguesas de mercadorias com origem em Moçambique mantiveram-se, entre 2017 e 2019 mais de 10% acima do nível que detinham em 2016, para descerem praticamente a esse nível em 2020. Por sua vez, as exportações, após uma quebra em 2017 e 2018, recuperaram nos dois anos seguintes, mantendo-se contudo abaixo do nível de 2016.


3.1 – Balança Comercial - 2016-2020 e Jan-Nov 2020-2021

A Balança Comercial de mercadorias de Portugal com Moçambique é amplamente favorável a Portugal. Dado o elevado diferencial entre o valor das importações e das exportações, o grau de cobertura das primeiras pelas segundas é muito elevado.

Ao longo do período 2016-2020 o saldo anual, positivo, oscilou entre 139 e 179 milhões de Euros. No período de Janeiro a Novembro de 2020 o saldo situou-se em 149 milhões de Euros, descendo para 143 milhões em 2021.

3.2 – Importações por grupos de produtos

         2019-2020 e Jan-Nov 2020-2021 

As importações de mercadorias com origem em Moçambique, muito pouco diversificadas,  centram-se no grupo de produtos “Agro-alimentares”, tendo representado em 2019 e 2020 mais de 90% do Total e 76,6% nos primeiros onze meses de 2021, com destaque para as importações de crustáceos, tabaco e, com menor expressão, moluscos e frutos tropicais, como cocos e castanha de cajú. Em 2021, no mesmo período, não se importou açúcar de cana, que foi o segundo produto dominante nas importações dos dois anos anteriores.

Seguiu-se neste período, a grande distância do grupo anterior, com um peso de 16,9%, o grupo “Madeira, cortiça e papel”, essencialmente composto por madeira em bruto, e também objectos orçamentais em madeira, papel impresso e obras de cestaria.

Entres os restantes grupos de produtos, com um mais reduzido significado, de referir “Minérios e metais” (3,3%), “Têxteis e vestuário“ (1,5%), “Máquinas, aparelhos e partes” (1,3%) e “Produtos acabados diversos” (0,4%).

O conjunto dos restantes grupos, ”Material de transporte terrestre e partes”, “Calçado, peles e couros”, “Químicos”, “Energéticos” e “Aeronaves, embarcações e partes” representaram apenas 0,1% do Total.




3.3 – Exportações por grupos de produtos

         2019-2020 e Jan-Nov 2020-2021

No período de Janeiro a Novembro de 2021 as principais exportações portuguesas para Moçambique couberam ao grupo “Máquinas, aparelhos e partes”, que representou 28,5% do Total. Muito diversificadas, estas exportações incidiram predominantemente em máquinas e aparelhos eléctricos, como fios e cabos, aparelhos de telefonia e telecomunicações, interruptores e aparelhos de protecção, quadros de distribuição de energia e máquinas automáticas para processamento de dados.

Seguiu-se o grupo “Químicos” (23,6% do total), com destaque para os reagentes de diagnóstico e laboratório, medicamentos, matérias corantes, tubos, embalagens e outros artefactos de plástico entre muitos outros.

O Grupo de produtos “Agro-alimentares” pesou 15,6% no Total, constituído principalmente por conservas de peixe, vinhos, preparados de farinhas, azeite, margarina, enchidos de carne, preparações alimentícias diversas e café,

No grupo “Minérios e metais” (11,1%), destacam-se as construções e outras obras de ferro ou aço, as barras e perfis de alumínio, as construções em alumínio, e as ferragens e guarnições metálicas.

No grupo “Produtos acabados diversos” (10,5%), muito diversificado, predominou o mobiliário, os ladrilhos e mosaicos cerâmicos, os assentos mesmo transformados em cama, os candeeiros e outros aparelhos de iluminação, os aparelhos para análises físicas ou químicas, o material sanitário, como lavatórios e banheiras de cerâmica, os instrumentos médicos, a pedra de cantaria e construção, os contadores de gases, líquidos e electricidade, o vidro de segurança e os aparelhos de raios X e outras radiações, entre muitos outros..

Seguiu-se o grupo “Madeira, cortiça e papel” (4,1%), com destaque para as caixas, sacos e embalagens de papel e cartão, livros e diverso material impresso, papel higiénico, lenços e fraldas, e obras de carpintaria para construção.

Os restantes grupos tiveram menor expressão: “Têxteis e vestuário” (2,2%), “Calçado, peles e partes” (1,5%), “Material de transporte terrestre e partes” (1,4%), “Energéticos” (1,3%) e “Aeronaves, embarcações e partes” (0,1%).

No quadro seguinte relacionam-se as principais exportações, por grupos de produtos, desagregadas a 4 dígitos da Nomenclatura Combinada.



Alcochete, 18 de Janeiro de 2022.

ANEXO


Sem comentários:

Enviar um comentário