Comércio Internacional da pesca,
preparações, conservas e outros
produtos do mar
(2021-2022)
1 - Introdução
Portugal, detentor
de uma das maiores "Zonas Económicas Exclusivas" (ZEE) a nível europeu e mundial,
mantém, no âmbito da “Pesca, preparações, conservas e outros produtos do
mar” uma balança comercial deficitária, com as importações (Fob) a representarem
cerca do dobro do valor das exportações.
O peso destes
produtos, no contexto do comércio global, foi tendencialmente decrescente ao
longo dos últimos cinco anos, tanto do lado das importações (de 2,9%, em 2018, para 2,4%, em 2022) como das exportações (respectivamente de 1,9% para 1,7%).
Neste trabalho
vai-se analisar a evolução das importações e exportações anuais destes produtos
em 2022, face a 2021, a partir de dados de base divulgados no portal do
Instituto Nacional de Estatística (INE) em versão definitiva para 2021 e
preliminar para 2022, com última actualização em 10 de Abril de 2023.
2 – Balança
Comercial
Em 2021 e 2022 a Balança
Comercial destes produtos do mar foi deficitária, com défices (Fob-Cif)
respectivamente de -996 milhões de Euros, em 2021, e -1325 milhões de Euros, em
2022.
Em 2022 a importações
cresceram em valor +24,5% e as exportações +16,8%, tendo a défice aumentado
+33,0%. O grau de cobertura das importações pelas exportações
desceu de 52,5%, em 2021, para 49,3%, em 2022.
Entre os agregados de
produtos aqui considerados destacam-se o “Peixe”, os “Crustáceos,
moluscos e outros invertebrados aquáticos” e as “Preparações e conservas
de peixe, crustáceos e moluscos”, que representaram 98% do total das
importações e 98,2% do total das exportações em 2022.
Na figura seguinte pode
observar-se a Balança Comercial das sete componentes em que foram agregados os
produtos em análise.
Como se pode observar, “Preparações
e conservas de peixe, crustáceos e moluscos” foi a única componente em que
o saldo da Balança Comercial foi positivo, e em cada um dos anos em análise, +35,8 milhões de Euros em 2022 e +30,2 milhões em 2021.
Os maiores défices
incidiram nas componentes “Peixe” (-1021 milhões de Euros em 2022 e ‑734
milhões em 2021) e “Crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos”
(respectivamente -309 e -274 milhões de Euros).
Apresentam-se em Anexos
quadros e gráficos com a Balança Comercial da desagregação das diversas
componentes por produtos a 4 ou 6 dígitos da Nomenclatura Combinada, com
indicação das quantidades transaccionadas.
3 – Importação
Em 2022 as importações
cresceram +24,5% face ao ano anterior (+514,7 milhões de Euros) tendo o maior
acréscimo cabido à componente “Peixe” (+367,5 milhões), seguida de “Crustáceos,
moluscos e outros invertebrados aquáticos” (+93,3 milhões) e de “Preparações,
conservas de peixe, crustáceos e moluscos” (+43,0 milhões de Euros).
Nas importações de “Peixe”
assumem particular relevância as de bacalhau, nos seus diversos estados, que
serão mais adiante abordadas com algum pormenor.
3.1 – Mercados
de Origem
Em 2022 os principais
mercados de origem das importações destes produtos foram a Espanha (41,5% do
Total), a Suécia (11,1%) e os Países Baixos (10,9%).
Em 2022 uma grande parte das importações provenientes da Suécia consistiu em bacalhau (87,2%, 254 milhões de Euros). Tudo indica que se tratará de bacalhau com origem na Noruega e destinado a Portugal, aqui com grande procura, que entrará em “livre prática” na UE através da Suécia (país limítrofe) depois de cumpridas as formalidades aduaneiras, já que as importações contabilizadas como originárias da Noruega se cifraram em apenas 17 milhões de Euros.
Seguiram-se a China
(3,8%), a Dinamarca (3,1%), o Equador e a Federação Russa (2,8% cada), a Índia
(2,4%), a França (2,1%), o Vietname (1,7%), a Alemanha (1,3%), Moçambique e a
África do Sul (1,0% cada), a Namíbia e a Turquia (0,9% cada), o Chile e a
Grécia (0,8% cada) Marrocos e o Senegal (0,7% cada) e os EUA (0,6%).
Este conjunto de países
representou 91,1% do Total das importações dos produtos do mar em 2022 (89,5%
em 2021).
4 – Exportação
Em 2022 as exportações
cresceram +16,8% face ao ano anterior (+185,7 milhões de Euros), tendo o maior acréscimo, à
semelhança do que aconteceu na importação, incidido na
componente “Peixe” (+80,3 milhões), seguida de “Crustáceos, moluscos
e outros invertebrados aquáticos” (+57,5 milhões) e de “Preparações,
conservas de peixe, crustáceos e moluscos” (+48,6 milhões de Euros).
Registaram-se decréscimos
em valor, face a 2021, nas exportações de peixe fresco ou refrigerado excluindo filetes, de peixes vivos, de produtos “solúveis” para
alimentação animal e da componente “Sal, águas-mãe de salinas e algas”.
4.1 – Mercados
de Destino
Cerca de 80% das
exportações destes produtos têm por destino a União Europeia, com destaque, em
2022, para a Espanha (51,0% do Total), França (11,0%) e Itália (10,2%).
Seguiram-se, entre os
principais países, o Brasil (6,0%), os EUA (3,8%), a China (1,6%), a Alemanha (1,5%),
a Suíça e o Reino Unido (1,4% cada), Angola (1,2%), os Países Baixos (1,1%), o Canadá e a Bélgica (1,0% cada).
5 –
Importação e exportação de sardinha
Face à acentuada redução
da espécie ao longo dos últimos anos em zonas em que operam habitualmente os pescadores
portugueses e espanhois, existem limitações anuais impostas à pesca da
sardinha, importante para o sector português da exportação de conservas, tendo
mesmo havido um parecer científico do “Conselho Internacional para a
Exploração do Mar (ICES)” que aconselhava a sua proibição.
Em 2022 aumentou a
importação de “Sardinha fresca, refrigerada ou congelada” (+21,2% em
valor e +14,6% em quantidade), e também a exportação (+11,8% e 5,2%,
respectivamente). O valor médio por quilo subiu de 1,4 para 1,5 Euros/Kg na
importação e de 1,6 para 1,7 Euros/Kg na exportação.
Os principais
fornecedores foram a Espanha (65,8%), Marrocos (21,7%) e a França (8,3%). Os
principais mercados de destino foram a Espanha (58,7%), a França (14,1%), os
EUA (5,6%) e o Canadá (5,2%).
Por sua vez, em 2022
decresceu a importação de “Conservas de sardinha” (-10,5%), cifrando-se
em 4,8 milhões de Euros, com o valor médio a subir de 1,8 para 3,2
Euros/Kg.
A exportação, num valor
de 62,2 milhões de Euros, aumentou +11,7% face a 2021, com o valor médio a subir de 5,5 para 6,1 Euros/Kg.
Em 2022 os principais
mercados de origem em foram a Espanha (43,0%), os Países Baixos (28,5%) e
Marrocos (27,6%).
Os principais destinos foram a França (39,0%), o Reino Unido/Irl.NT (10,4%), a Áustria (7,9%), os EUA (7,0%), a Bélgica (6,0%), os Países Baixos e a Espanha (4,1% cada).
6 –
Importação e exportação de bacalhau
Em 2022 o bacalhau pesou
25,9% no total das importações dos produtos do mar e 12,5% no total das
exportações.
O bacalhau ocupa uma
posição importante na dieta alimentar dos portugueses, tendo nos últimos dois
anos o peso das suas importações sido cerca de quatro vezes superior ao das
exportações.
Em 2022, face ao ano
anterior, a importação de bacalhau aumentou em valor +37,5% e a exportação
+23,3%.
De 2021 para 2022 o valor
médio por quilo da importação subiu de 5,2 para 7,0 Euros/Kg e o da exportação
de 3,7 para 8,4 Euros/Kg.
Entre os vários tipos de
bacalhau destaca-se, nas importações, o “Seco, salgado, em salmoura ou
fumado” (66,3% em 2022) e o “Congelado excluindo filetes” (21,7%).
Nas exportações
predominaram, em 2022, o bacalhau “Congelado excluindo filetes” (37,1%),
o “Seco, salgado, em salmoura ou fumado” (33,6%), os “Filetes em
qualquer estado” (14,4%) e a “Carne de bacalhau congelado, excepto
filetes” (11,7%).
Em 2022 os principais
mercados de origem das importações de bacalhau foram a Suécia, com o
condicionalismo já atrás abordado (36,4%), os Países Baixos (33,8%) e a
Federação Russa (10,6%).
Os principais países de
destino foram o Brasil (36,6%), a França (17,7%), a Espanha (11,5%) e a Itália
(9,8%).
ANEXOS
Alcochete, 22 de Abril de 2023.
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