Comércio Internacional da pesca,
preparações, conservas e outros
produtos do mar
(1º Semestre 2022-2023)
1 - Introdução
Portugal
é detentor de uma das maiores Zonas
Económicas Exclusivas (ZEE) a nível europeu e mesmo mundial, decorrendo junto
das Nações Unidas um processo que visa a extensão da plataforma continental
para além das 200 milhas.
Apesar
da enorme extensão marítima já hoje disponível, a balança comercial da “Pesca,
preparações, conservas e outros produtos do mar” é deficitária,
representando as importações um valor (Fob) cerca de duas vezes superior ao das
exportações.
No
presente trabalho analisa-se a evolução destas trocas comerciais com o
exterior, a partir de dados de base divulgados no portal do Instituto
Nacional de Estatística para o primeiro semestre de 2022, em versão
definitiva, e 2023, em versão preliminar, com última actualização em 9 de Agosto
de 2023.
2 – Peso da pesca, preparações, conservas e outros produtos do mar no comércio internacional português
No 1º Semestre de 2022 e 2023 as
importações destes produtos representaram cerca de 2,4% das importações
globais, e 1,6% das exportações.
3 – Balança
Comercial
No 1º
Semestre de 2023 o défice da Balança Comercial (Fob-Cif) destes produtos do mar
reduziu-se em -5,7%, ao situar-se em -640 milhões de Euros, contra -679 milhões
no mesmo período do ano anterior, na sequência de um acréscimo das exportações
mais vigoroso do que o das importações (+8,7% e +1,1%, respectivamente).
O grau
de cobertura das importações pelas exportações, que em 2022 se situou em 46,9%, subiu para 50,4% em 2023.
No
1º Semestre de 2023, entre os agregados de produtos considerados, destacaram-se,
tanto nas importações como nas exportações, o “Peixe” (respectivamente
64,2% e 47,0% do Total), os “Crustáceos, moluscos e outros invertebrados
aquáticos” (22,2% e 25,4%) e as “Preparações e conservas de peixe,
crustáceos e moluscos” (11,5% e 25,9%).
Este
conjunto de produtos representou 97,8% das importações em 2023 e 98,3% do total
das exportações.
No
quadro seguinte pode observar-se a Balança Comercial das sete componentes
consideradas.
O
único agregado em que o saldo da Balança Comercial foi favorável foi “Preparações
e conservas de peixe, crustáceos e moluscos” (+20,0 milhões de Euros em 2023
e +15,9 milhões em 2022).
Os
maiores défices incidiram nos agregados “Peixe” (‑522,5 milhões de Euros
em 2023 e ‑564,4 milhões em 2022) e “Crustáceos, moluscos e outros
invertebrados aquáticos” (‑120,7 e -115,9 milhões de Euros,
respectivamente).
4
– Importação
No
1º Semestre de 2023 as importações cresceram +1,1% face ao período homólogo do
ano anterior (+13,5 milhões de Euros).
O
maior acréscimo ocorreu na componente “Preparações e conservas de peixe,
crustáceos e moluscos” (+14,4 milhões de Euros), seguido dos “Produtos
da pesca impróprios para a alimentação humana” (+2,9 milhões), das “Gorduras
e óleos de peixe e mamíferos marinhos”
(+958 mil Euros) e dos “Extractos e sucos de carnes” (+208 mil Euros).
Registaram-se
decréscimos nas componentes “Peixe” (-2,6 milhões de Euros), onde assume
particular relevância o bacalhau, “Sal, águas-mãe de salinas e algas”
(-1,6 milhões) e “Crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos”
(-644 mil Euros).
4.1 – Mercados de origem
No
1º Semestre de 2023 os principais fornecedores destes produtos foram a Espanha
(39,8% do Total), os Países Baixos (15,4%), a Suécia (7,2%), a Dinamarca e a
China (4,0% cada), a Federação Russa (3,8%), a Índia (2,2%) e o Equador (2,1%),
países que totalizaram 78,5% destas importações.
Os
maiores acréscimos, face ao semestre homólogo de 2022, couberam a Espanha (+25,1
milhões de Euros) e aos Países Baixos (+21,7 milhões).
O
maior decréscimo incidiu na Suécia ( -59,0 milhões de Euros) centrado, como
adiante se verá, na importação de bacalhau.
5
- Exportação
No
1º Semestre de 2023 as exportações cresceram +8,7% face ao período homólogo do
ano anterior (+52,0 milhões de Euros).
Os
maiores acréscimos ocorreram nas componentes “Peixe” (+39,4 milhões de
Euros), principalmente peixe congelado e filetes, e “Preparações e conservas
de peixe, crustáceos e moluscos” (+18,5 milhões), principalmente conservas
de peixe.
Os
maiores decréscimos incidiram nas componentes “Crustáceos, moluscos e outros
invertebrados aquáticos” (-5,5 milhões de Euros) e “Produtos da pesca
impróprios para a alimentação humana” (-1,2 milhões).
5.1 – Mercados de destino
No
1º Semestre de 2023 o principal mercado de destino foi a Espanha (50,5% do
Total), seguida da França (11,3%), da Itália (9,8%) e do Brasil (7,9%).
Com
quotas inferiores alinharam-se depois, entre os principais, a China (2,6%), os
EUA (2,5%), a Alemanha (1,7%), o Reino Unido/Irl NT (1,5%), a Suíça (1,4%),
Angola (1,1%), a Bélgica e os Países Baixos (1,0% cada).
Os
maiores acréscimos, face ao semestre homólogo de 2022, couberam a Espanha (+24,8
milhões de Euros), ao Brasil (+19,7 milhões), à China (+8,4 milhões), à França
(+5,8 milhões), à Alemanha (+3,5 milhões), à Suécia (+1,8 milhões), ao Reino
Unido/Irl NT (+1,1 milhões)e à Suíça (+1,0 milhões).
Por
sua vez, os maiores decréscimos nestas exportações incidiram nos EUA (-7,3
milhões de Euros), no Canadá (-1,4 milhões), na Polónia (-997 mil Euros), na
Croácia (-773 mil Euros) e nos Países Baixos (-591 mil Euros).
6
– Importação e exportação de sardinha
São
conhecidas as limitações impostas à pesca da sardinha, importante para o sector
de exportação das conservas, em zonas em que operam habitualmente os pescadores
portugueses e espanhóis. Face à acentuada redução do “stock” verificada
ao longo da última década, houve mesmo um parecer científico do Conselho
Internacional para a Exploração do Mar (ICES) que aconselhava a proibição da
sua pesca.
No
1º Semestre de 2023, face ao semestre homólogo de 2022, diminuiu a importação
de “Sardinha fresca, refrigerada ou congelada” (-14,6% em valor e -18,3%
em quantidade), tendo aumentado a sua exportação (+1,4% em valor e +11,6% em
quantidade).
No
âmbito das “Preparações e conservas de sardinha”, a importação registou
uma descida em valor de -2,8% e uma quebra em quantidade de -39,0% face a 2021,
com o valor unitário a aumentar de 2,7 para 4,4 Euros/Kg.
Por
sua vez, a exportação aumentou +9,1% em valor, a que correspondeu uma quebra em
quantidade de -0,8%, com o valor unitário a subir de 5,8 para 6,4 Euros/Kg.
7
– Importação e exportação de bacalhau
O
bacalhau ocupa uma posição importante na dieta alimentar dos portugueses. Nos
semestres em análise o valor da importação de bacalhau, nos seus diversos
estados, foi 4,2 vezes superior ao da exportação em 2022 e 5,4 vezes em 2022.
No
1º Semestre de 2023 a importação de bacalhau decresceu em valor -4,1% face a 2022,
tendo pesado 27,9% no Total dos produtos do mar (29,3% em 2022). Por sua vez,
na vertente da exportação aumentou +24,4%, tendo pesado 12,8% (11,2% em 2022).
Entre
os vários tipos de bacalhau destaca-se, nas importações, o “Seco, salgado,
em salmoura ou fumado”, que representou 62,2% do Total no 1º Semestre de
2023, seguido do “Congelado, excluindo filetes” (25,8%) e do “Fresco
ou refrigerado excepto filetes” (10,6%).
Nas exportações prevaleceu o bacalhau “Congelado
excluindo filetes” (46,3%), seguido do “Seco, salgado, em
salmoura ou fumado” (25,1%), da “Carne de bacalhau congelada, excluindo
filetes” (16,1%) e dos “Filetes em qualquer estado” (9,9%).
Os
principais mercados de origem das importações de bacalhau em 2023 foram os
Países Baixos (48,6% e 39,1% em 2022), a Suécia (20,8% e 34,6%), que registou
uma quebra significativa face ao ano anterior, seguidos da Federação Russa (13,5%
e 11,1%).
Sabe-se
que uma grande parte do bacalhau consumido em Portugal tem origem na Noruega,
país extracomunitário limítrofe da Suécia. Tudo indica que a posição da Suécia
entre os fornecedores contabilizados pelo INE assentará no facto de ser este um
país de “introdução em livre prática” na UE do bacalhau norueguês
destinado a Portugal.
Os
principais mercados de destino das exportações de bacalhau em 2023 foram o
Brasil 46,5% no 1º semestyre de 2023 e 36,7% no semestre homólogo de 2022), a
França (15,1% e 20%) e a Espanha (11,6% e 15,1%). Com pesos menores
alinharam-se depois a Itália (7,3% e 8,6%), a Suíça (3,4% e 3,6%), Angola (3,3%
e 2,9%), a Bélgica (2,4% e 2,1%) e os EUA (2,4% e 2,8%).
Seguem-se,
em anexo, quadros e gráficos com a Balança Comercial da desagregação das
diversas componentes por produtos a quatro ou a seis dígitos da Nomenclatura
Combinada, com indicação do valor e das quantidades transaccionadas nos
semestres em análise.
ANEXOS
Alcochete,
1 de Setembro de 2023.
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