quinta-feira, 28 de maio de 2020

Comércio Internacional com Angola (2014-2019 e 1º Trim 2020)



Comércio Internacional de mercadorias 
com Angola
(2014-2019 e 1º Trimestre 2020)

                                                       " Disponível para download > aqui "

1 – Nota introdutória
Neste trabalho é feita uma breve análise da evolução do comércio externo de mercadorias de Angola nos últimos anos, com base em dados estatísticos divulgados pelo “Banco Nacional de Angola” (BNA), pela “Administração Geral Tributária”, de Angola (AGT) e pelo “International Trade Centre” (ITC).
Segue-se uma análise da evolução do comércio internacional de mercadorias de Portugal com Angola entre 2014 e 2019 e período de Janeiro a Março de 2019 e 2020, com base em dados estatísticos preliminares divulgados pelo “Instituto Nacional de Estatística de Portugal” (INE), actualizados a 8 de Maio de 2020.
2 – Alguns dados sobre o comércio externo de Angola

A economia angolana é muito dependente do comportamento do sector petrolífero no mercado internacional, o que condiciona fortemente o seu PIB. As exportações do sector, essencialmente constituídas por petróleo bruto, mas também refinados de petróleo e gás, representaram ao longo dos últimos seis anos mais de 95% das exportações globais do país.

Entre 2014 e 2016 assistiu-se a uma quebra acentuada dos dois fluxos comerciais de mercadorias. A partir de 2016 ambos cresceram, sendo o ritmo da exportação superior ao da importação.

2.1 – Balança Comercial
A Balança Comercial de Angola é ‘superavitária’, com elevados graus de cobertura das importações pelas exportações (245,8% em 2019).
Em 2019, face ao ano anterior, as importações terão decrescido -4,6% e as exportações ‑9,1%, com o saldo da balança a cair -11,9%, ao situar-se em +18,6 mil milhões de Euros

2.2 – Quota de Portugal nas importações globais de Angola
De acordo com estatísticas do Banco Nacional de Angola, a quota de Portugal nas importações angolanas ter-se-á situado em 12,9% em 2019.

A quota mais baixa desde 2003, o ano mais atrasado disponível, terá ocorrido em 2005 (9,1%). A partir de então subiu sucessivamente, situando-se em 16,5% em 2013. Decresceu nos dois anos seguintes (12,7% em 2015), para recuperar o crescimento até 2017 (16,3%), voltando a decair até ao ano transacto (12,9%).
Entre 2003 e 2017, à excepção do ano de 2015, em que foi ultrapassado pela China, Portugal ocupou a primeira posição no “ranking” dos principais fornecedores de Angola. Nos dois anos seguintes a China passou a primeiro fornecedor, tendo Portugal ocupado a segunda posição em 2018 e a terceira, depois da França, em 2019.
De referir que a França, que em 2014 detinha uma quota de apenas 2,5%, não figurando depois entre os principais fornecedores até 2018, atingiu em 2019 a segunda posição com uma quota de 13,8%, depois da China (14,0%) e à frente de Portugal (12,9%). Tudo indica ter sido este incremento fruto de acordos firmados entre Angola e empresas francesas para o fornecimento de refinados do petróleo.

2.3 – Importações em Angola por grupos de produtos
         e quotas de Portugal
Foram aqui analisados, convertidos em Euros, os últimos dados disponíveis, desagregados por Capítulos do Sistema Harmonizado (SH), de fonte “Administração Geral Tributária de Angola” (AGT) para os anos de 2017 e 2018, agregados por Grupos de Produtos, cujo conteúdo em termos de Nomenclatura se encontra definido em Anexo.
Não se dispondo, com a mesma desagregação, dos correspondentes dados das importações angolanas com origem em Portugal, foram utilizados, para o cálculo das quotas de Portugal por grupos de produtos, dados estatísticos das exportações portuguesas para Angola de fonte “Instituto Nacional de Estatística de Portugal” (INE), expressos em valores Fob, convertidos a valores Cif por aplicação de um factor fixo (Fob = Cif x 0,9533).
Em 2018, as importações com maior peso no total incidiram nos grupos “Agro-alimentares” (20,5% e 18,0% em 25017) e “Máquinas, aparelhos e partes” (19,3% e 22,0%).
Seguiram-se os grupos “Energéticos” (14,8% e 12,2% em 2017), “Químicos” (11,3% e 11,1%), “Aeronaves, embarcações e partes” (10,9% e 0,6%), “Produtos acabados diversos” (8,3% e 17,7%), “Minérios e metais” (6,3% e 7,1%), “Material de transporte terrestre e partes” (4,3% e 6,1%), “Têxteis e vestuário” (2,0% e 2,8%), “Madeira, cortiça e papel” (1,8% e 1,6%) e “Calçado, peles e couros” (0,6% e 0,8% em 2017).

Por grupos de produtos, as maiores quotas de Portugal em 2018 ocorreram nos grupos “Madeira, cortiça e papel” (27,2%), “Calçado, peles e couros” (23,1%), “Químicos” (18,3%) e “Minérios e metais” (17,6%). Com quotas entre 14% e 15% alinharam-se os grupos “Produtos acabados diversos” (15,0%), “Têxteis e vestuário” (14,9%), “Máquinas, aparelhos e partes” (14,7%) e “Agro-alimentares” (14,2%). As menores quotas incidiram nos grupos “Material de transporte terrestre e partes” (5,3%), “Energéticos” (0,9%) e “Aeronaves, embarcações e partes” (0,3%).

2.4 – Exportações de Angola por grupos de produtos
         e quotas de Portugal
Em 2018, face a 2017, as exportações aumentaram +20,7% em valor (+5,6 mil milhões de Euros), acréscimo assente nas exportações do grupo “Energéticos”, que pesou 95,7% no total em 2018 (93,7% em 2017), essencialmente constituídas por petróleo bruto.
O segundo grupo de produtos com maior peso, 3,2% (4,1% em 2017), foi “Minérios e metais”, onde se encontram incluídas as pedras e metais preciosos e os metais comuns e suas obras.

As quotas de Portugal nas exportações de Angola nestes dois grupos de produtos, que em 2018 representaram cerca de 99% do Total, foram respectivamente 2,8% (1,0% em 2017) e 0,2% (0,1% no ano anterior).
2.5 – Principais destinos das exportações angolanas de petróleo bruto 
O petróleo bruto representa cerca de 90% das exportações globais de Angola, sendo a China o principal destino, com mais de 2/3 do Total em 2019.

Em 2019 Portugal terá sido o terceiro principal mercado destas exportações, a par da Espanha, com 3,5% do Total, seguidos dos EUA, Tailândia, França, África do Sul e Singapura, conjunto de países que absorveram 94,0% destes fornecimentos.
3. Comércio Internacional de Portugal com Angola (2014-2019)
Para as trocas comerciais de Portugal com Angola vão agora ser utilizadas estatísticas do Instituto Nacional de Estatística de Portugal, com dados definitivos para os anos de 2014 a 2017, provisórios para 2018 e preliminares para 2019.
3.1 – Balança Comercial
A balança comercial de mercadorias de Portugal com Angola é francamente favorável a Portugal, com um elevado grau de cobertura das importações pelas exportações.


De 2014 a 2019, aparte um acréscimo da exportação em 2017, a par de um decréscimo significativo da importação, o saldo da balança foi decrescente, passando de 1,6 mil milhões de Euros, em 2014, para 163 milhões, em 2019.
3.2 – Importações
As importações provenientes de Angola estão centradas no petróleo bruto e logo sujeitas à flutuação do seu preço no mercado internacional, tendo o grupo dos produtos “Energéticos” em 2019 representado 98,5% do Total.

Ao longo do período em análise é variável a constituição das importações dos produtos residuais da importação.
Em 2019, destacam-se, no grupo “Agro-alimentares” (57,6%), os crustáceos, as bananas e o café. Com pesos inferiores seguiram-se, entre os principais, os grupos:
- “Madeira, cortiça e papel” (13,2%), designadamente madeira serrada;
- “Máquinas, aparelhos e partes” (8,6%), como máquinas para tratamento de substâncias minerais, máquinas elevatórias e partes de diversos tipos de máquinas;
- “Produtos acabados diversos” (7,6%), como relógios e pedra para calcetar;
- “Minérios e metais” (7,2%), com destaque para a pedra de cantaria ou construção, artefactos de joalharia, recipientes para gases, e construções e suas partes em ferro ou aço.

3.3 – Exportações
Com uma quebra em 2010, as exportações para Angola cresceram sustentadamente entre 2000 e 2014 (de 371 milhões para 3,2 mil milhões de Euros), decrescendo tendencialmente a partir de então, até se situarem em 1,2 mil milhões de Euros em 2019.



Em 2019 as principais exportações ocorreram no grupo “Máquinas, aparelhos e partes”, que representou 26,3% das nossas exportações totais para Angola, com destaque para as máquinas e aparelhos mecânicos, muito diversificadas, como partes de máquinas elevatórias, máquinas automáticas para processamento de dados, centrifugadores e máquinas para filtrar líquidos ou gases, bombas para líquidos, refrigeradores e congeladores, torneiras e válvulas, máquinas de impressão, bombas de ar, compressores, ventiladores e exaustores, e máquinas de lavar, entre muitas outras. Entre as máquinas e aparelhos eléctricos destacaram-se as exportações de fios e cabos, quadros eléctricos, transformadores e conversores, telefones e outros aparelhos de telecomunicações, suportes para gravação de som, interruptores e seccionadores, grupos electrogéneos e receptores de televisão.
Seguiu-se o grupo “Agro-alimentares” (23,9%), com evidência para o óleo de soja, leite e lacticínios, bebidas alcoólicas, farinhas, preparações à base de carnes e de cereais e outras preparações alimentícias.
No grupo “Químicos” (17,0%) sobressaíram as exportações de plásticos, produtos farmacêuticos, produtos diversos das indústrias químicas como reagentes de laboratório, insecticidas e outros, óleos essenciais e produtos de perfumaria e cosmética, borracha e suas obras, produtos químicos inorgânicos, sabões e ceras, extractos tanantes, tintas e vernizes
No grupo “Produtos acabados diversos” (10,6%) destacaram-se o mobiliário, candeeiros e outros objectos caseiros, os aparelhos ópticos, de fotografia, médicos, de medida e de precisão, os produtos cerâmicos e do vidro, ao artigos de relojoaria, brinquedos e uma grande diversidade de outras obras, como pensos higiénicos e fraldas, esferográficas, canetas e lapiseiras, fitas para máquinas de escrever ou de calcular,
Seguiu-se o grupo “Minérios e metais” (10,4%), onde predominou o ferro ou aço e suas obas, o alumínio e suas obras, e obras diversas de metais comuns.
Os restantes grupos de produtos contabilizam exportações com pesos inferiores a 5% do Total em 2019. No quadro seguinte encontram-se relacionadas, a dois ou a 4 dígitos da Nomenclatura, por grupos de produtos, os principais tipos de produtos transaccionados ao longo dos últimos seis anos.

4 – Trocas comerciais de Portugal com Angola no 1º Trimestre de 2020
Os dados de base do Instituto Nacional de Estatística de Portugal utilizados na análise da evolução do comércio externo de Portugal com Angola no primeiro trimestre de 2020, em termos homólogos, correspondem a versões preliminares dos anos em análise.
4.1 – Balança Comercial
O saldo da Balança comercial de Portugal com Angola no primeiro trimestre de 2020 registou um decréscimo, em termos homólogos, de -24,9%, tornando-se deficitário. As importações, centradas no petróleo, registaram um acréscimo de +3,0% (+7 milhões de Euros), a par de um decréscimo das exportações de -24,9% (-63 milhões de Euros).

4.2 – Importações
As importações assentam, em sua grande parte, no grupo dos produtos “Energéticos” designadamente no petróleo bruto, que representou 97,8% do total no período em análise de 2020 e 98,4% em 2019. Estas importações registaram um crescimento em valor +2,4%. 

A grande distância, seguiram-se os grupos “Agro-alimentares” (1,4% do total em 2020), essencialmente constituído por peixe, crustáceos e moluscos, e também frutas, “Madeira, cortiça e papel” (0,4%), “Produtos acabados diversos”, “Minérios e metais”, “Máquinas, aparelhos e partes” e “Material de transporte terrestre e partes” (0,1% do Total cada).

4.3 – Exportações
Nas exportações destacaram-se os grupos “Agro-alimentares” (27,9% em 2020 e 21,4% em 2019), “Máquinas, aparelhos e partes” (26,5% e 27,4%), “Químicos” (15,9% e 17,0%), “Produtos acabados diversos” (9,1% e 10,8%) e “Minérios e metais” (8,5% e 11,0%), que representaram no seu conjunto 87,8% do total em 2020 e 87,6% em 2019.

No âmbito do grupo “Agro-alimentares” sobressaíram as exportações de óleos alimentares, de vinho e outras bebidas alcoólicas, de preparações de carne, peixe, crustáceos e moluscos, de leite e lacticínios, de preparações à base de cereais, de produtos da indústria de moagem, de carnes e miudezas comestíveis, entre muitos outros produtos alimentares.
O grupo “Máquinas, aparelhos e partes” inclui máquinas e aparelhos mecânicos e eléctricos, muito diversificados. Em 2020 destacaram-se as partes de aparelhos e máquinas de elevação e de obras públicas, os fios e cabos eléctricos, as máquinas automáticas para processamento de dados, os quadros eléctricos, os transformadores e conversores, os refrigeradores e congeladores, os aparelhos de interrupção, seccionamento e protecção de corrente eléctrica, as máquinas de impressão, as bombas para líquidos, os aparelhos telefónicos, os discos, fitas, cartões inteligentes e outros suportes para gravação de som, as bombas de ar ou vácuo, as torneiras e válvulas, os acumuladores eléctricos e as máquinas para tratamento de substâncias minerais sólidas, entre muitas outras.
No grupo “Químicos” destacaram-se os produtos farmacêuticos, os plásticos e suas obras, os óleos essenciais, produtos de perfumaria e de cosmética, os extractos tanantes, tintas e vernizes, os sabões e preparações para lavagem, e a borracha e suas obras.
No grupo “Produtos acabados diversos” encontram-se incluídos produtos muito diversificados, principalmente mobiliário, instrumentos e aparelhos de óptica, fotografia, de medida, de controlo ou de precisão incluindo os aparelhos médico-cirúrgicos, os produtos cerâmicos, as obras de pedra, o vidro e suas obras, os artigos de relojoaria, e os brinquedos e jogos.
No grupo “Minérios e metais” assumem maior relevância os metais, e dentre estes o ferro ou aço, o alumínio, o cobre, e suas obras.

Alcochete, 24 de Maio de 2020.
ANEXO



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